Dom Quixote

DOM QUIXOTE

Acordo, algo me acorda,

não me sinto acordado

O som do relógio dilacera minha alma

Não sei o que é o tempo

Idéias mortas de tempo retiradas de ponteiros e de números,

O sol está lá fora e somente agora eu me lembrei disso,

Acordei para o quê mesmo?

A repetição de meus gestos nesse novo dia,

O que essas paredes não estarão tramando contra mim?

Todas essas coisas,

Todos esses objetos,

Todos esses corpos imóveis e inanimados me causam pavor,

Um pavor repulsivo de enxergar as coisas,

De saber que elas existem de fato e estão lá,

Toda essa nudez sufocante de coisas existirem

E Deus jogando xadrez com o Espírito Santo lá no paraíso.

Vejo a foto de minha amiga em minha mente,

Nossas almas escondidas na gruta de Platão,

E nossos olhos sorriem como crianças

Assistindo a execução de Sócrates.

Acordei para o quê mesmo?

Utopia de sair de casa, e de ser alguma coisa de fato,

Eu sou alguma coisa,

Se não houvesse alfabetos nem linguagens

O que então eu seria?

Já não há mais moinhos de vento para enfrentar,

Já não há mais gigantes e dragões para se surpreender,

Somos agora as velas funerárias no enterro da Verdade.

gilliard alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 08/09/2007
Reeditado em 21/06/2010
Código do texto: T643617
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.