O murmúrio das pedras

Nesta era dos clamores febris

Do mundo suicida e das vidas que restam,

Vale a pena mergulhar no murmúrio das pedras...

Escutar maravilhas no gargalhar do silêncio.

Medir o som que exala da terra em cânticos de perdão.

Saborear o deslizar das águas cada vez mais gentis

Que teimam em lavar os nossos corpos que sofrem.

Somos cada vez mais um bando de trogloditas,

Hermafroditas no desejo de profanar a tudo e a todos.

Hipócritas que rezam, choram, riem e se matam.

O parco pó que nos segura não vai durar para sempre...

Alegrias sem sentido não purificam o nosso coração.

Ainda estamos a tempo de renunciar à dura eutanásia.

Podemos ainda segurar o nosso corpo que estremece.

Dá tempo de cavalgar as colinas dos nossos sonhos.

A altivez da morte é uma ameaça que nos enfraquece,

Cavaleiro negro que nos observa para lá do infinito...

A vida é muito mais do que uma fogueira de vaidades.

A cova que nos vai engolir é feita dos restos da humanidade.

Ainda há tempo para degustar o sol, a chuva e as cascatas.

Acordar ao som dos pássaros e no sibilar das matas.

Renunciar, com alegria, àquilo que não foi feito para nós.

Achar um outro horizonte aprazível, mais digno e justo.

Semear o nosso chão com ossadas antigas e eloquentes.

Pertencer a essa terra de ninguém que nos quer bem...

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 23/09/2018
Reeditado em 23/09/2018
Código do texto: T6457596
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