Transcendendo os clássicos

Ora, novamente chega a derradeira hora

De falar da senhora musa de meus delírios

Responsável pelas lágrimas sem velório de meus olhos

E pela glória irrisória e eufórica de meus sorrisos

É doença a malária que contraio de um mosquito

Vulgo cupido simplório de Afrodite

Que perfura a alma e ao amor permite

Adentrar meu coração de tróia, ó amor, cavalo maldito

Eis que saem vários soldadinhos conjurados

Pouco a pouco se alastra o vírus em meu sistema organizado

É inserido o amor, um novo estado é definido

E um olhar desinteressado em apaixonado é corrompido

Tudo isso não passa de um processo escasso

Que ainda hoje vende muito marcapasso

A bossa, valsa, a música clássica

Que age, arde do nada, quando ela passa

Ora se age e arde, porque não ajo? Não posso?

Porque não mostro o amor que sempre está à margem?

E a dor numa hospedagem cinco estrelas, esse monstro

Porque a guardo, a sinto, minto por ela minha coragem?

Ora porque sou tolo, covarde, idiota e tímido

De que vale um sábio do amor se não é patriota?

Se no âmago é inquebrável mas por fora é mínimo

Sou um ego imaginário, sou poeta menino

Creio que, em verdade, sou acostumado com a vida

A ser apedrejado e cuspido pelo cupido, já mencionado

Me assombra com um passado de musas prematuras

E me presenteia com dois tiros: um com futuro, outro sem despedida

É duro aguardar um futuro sem aguardente

O constante tormento sem cura em cima do muro

Será que juro um amor infindo de pé junto

Ou abraço o pranto impuro de uma dor crescente?

A resposta para vós deve ser óbvia, caros amigos

Porém o amor é vasto apenas para os escolhidos

Escolho a minha e posso admira-la em minha vista distante

Ou a vossa e ela me manda para o pasto triste do inconsciente

Falando em pasto cá estamos, no deserto verdejante

Onde de quando em quando cai uma gota agonizante

De amor morto, mar de espinhos pulsante

É posto, imposto a mim, pelo fim iminente

A essa altura da leitura só fomos em descida

O sentido de algo é esperado, mas não sentido

O tempo deve ser valorizado e a idéia transmitida

Meu relógio está parado e meu lápis em miniatura

Então encerro aqui, está mais do que na hora

Cinqüenta mil estrofes qualquer clássico assassina

Um novo amor começa num poema que termina

Me despeço por agora: Adeus! E vou me embora

Lúcio de Moura
Enviado por Lúcio de Moura em 20/09/2007
Código do texto: T660486