Sem título
ave selvagem que rapina
paira inacessível
meus olhos te seguem
num frio instinto
ela impávida
lança sua vontade
sobre tudo que se move
nos meus ouvidos
seu grito retumba
e minha pele se agita
meus pelos como de um ouriço
se espertam
seu grito retumba
um amontado de pequenos medos
se prendem em minha garganta
um passo a frente
baixo ao sol
me apresento
então uma sombra
toma parte no horizonte
ela desce como um trovão
não um raio, um trovão
que vem anunciado
em meus joelhos
o frio do pior dos invernos
disparo
vacilante
com o grito de mil homens na garganta
a inevitável colisão é chegada
e meu corpo
se transforma em águia
do meu grito faz-se ceder
o chão
Há uma estranheza enorme em ser pássaro
que voar traz força ao coração