As hienas

ouço ao longe o riso das hienas

que se aproximam em grupos

e corpos preparados para trucidar

bocas fétidas negras e obscenas

erguidas pelas patas dianteiras

que sacodem o instinto de matar

covardemente tentam cercar-me

conheço-as de ocasiões certeiras

feitas de migalhas do meu jantar

já sei que não devo mostrar temor

pela procura ávida do meu sangue

sou eu quem devo atacá-las primeiro

ou despistá-las para sempre ao luar

num gesto bravo e atento com ardor

elas não resistem à tortura do mangue

sangue misturado nas areias sem cheiro

esfarrapadas pela sede e pela fome

perdem-me rapidamente nesse terreiro

em risos vis de escárnio e fingimento

sigo agora o caminho muito atento

apenas aos homens que cruzem a estrada

das pobres hienas esfomeadas sou vento

que leva para longe o som do seu lamento

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 10/10/2019
Código do texto: T6766284
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.