Deus não pode se esconder de nós

Ocorreu-me, em parca análise, o que pareceu ser um errante.

E mo disse coisa da mais profunda, que estonteou todo o meu Eu.

Olho-me nos olhos e aprofundou-se, como se buscasse meu vazio mais interior.

Me disse que não era segredo o que diria,

mas que não ser segredo não significa que não existisse esforço para concebê-lo;

e riu-se de mim, como que por motivo algum.

Disse-me ele, então, que Deus não podia mais esconder-se dele,

pois o via na mais tenebrosa noite; e o via, também, mesmo no mais espantoso horror.

Disse que Deus lho dissera que guardou, com seu sinal, a menor, e também a mais absoluta, das coisas.

E que dor alguma jamais seria em vão.

E que filho algum deixaria de voltar para casa.

E que a marca que fere é também aquela que liberta.

E que o riso ao acaso é a desventura daquele que descobriu o sentido da vida, que ninguém lho contou.

E que o mais profundo, mesmo difícil, é também o mais revelador.

E que Pai verdadeiro algum se esconde de seu filho.

E nem aprisiona aquele que, na verdade, mesmo preso, liberta.