Um canto de incautos

No verão as folhas brilhavam no jardim

O Rio se enchia com o Sol

E o Sol se enchia com o Rio

Suas flores cegariam homens como nós, já cegos.

No canto matinal dos pássaros

Vozes profundas

Incompreensíveis, inacessíveis a nós

Um Rio corria do norte para o sul

E enchia as árvores com luz

Alguns navegavam puxados pela corrente

Até naufragarem com o canto da serpente

Então veio o inverno

Que escondia nos seus termos

Lugares ermos

Corríamos pelas pastagens sem gado

Sem ovelhas e sem Lago

Bebíamos de uma fonte suja

Enquanto éramos observados pela coruja

A água tinha gosto de lodo

E a fonte era guardada pelo lobo, vivíamos

Na perpétua busca do temporário

Na constante instanciação do variável

Tempo entre os múltiplos tempos

O tempo do sem tempo é sempre o presente

Presente que dirige o passado

Presente que corrói o futuro

Presente que se ausenta da presença atemporal

As vagas encontram as dragas

E as giram com se fossem palhas.

Sobre a lua minguante

De olhar recalcitrante

Os raios refulgem na proa

E se escondem na popa

Mas ambas estão obscuras

Haverá uma primavera

R R Vieira
Enviado por R R Vieira em 28/04/2020
Reeditado em 28/04/2020
Código do texto: T6930690
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