Corajosos II
Eu sou o arco-e-flecha na porta bamba
Eu sou a isca fera do brado macho
Sou o vento feroz frente ao moicano insano
Um impiedoso sábio ao menino verde
Água mole em pedra dura
Eu sou remorso no altruísta
Sou a injúria na necessidade
Sou o pecado nas mãos de Deus
E o anjo perfeito aos olhos do Renegado
Água mole em pedra dura
Aquele chão que amortece a queda
Aquela cama ao cansado corpo
Aquele pão ao faminto ser
Já não é mais sossego,
Pois aqui estou
Água mole em pedra dura
Beiram todos ao meu solado
Cheiro doce de vitória
Carinhosos brios de juventude
A vontade está comigo
O suspiro me empurra
Água mole em pedra dura
Não queiram saber os malfeitores
Que a lentidão da justiça reina
Meu faro é forte e minha mão, viril
Faço dança ao ganhar na foice
Água mole em pedra dura
Reino manso em meu tormento
Falo baixo em gritarias
Ouço tudo e mais um pouco
E aquilo que de mim pensarias
Aguá mole em pedra dura
Somos um todo e só alguém
Somos gigantes no mar do tempo
Um efeito eterno na vossa mente carente
Um pranto uníssono nesse mundo vão
Aqueles que partem juntos ainda estão
No rosto, no ombro amigo
Ainda assim a peleia continua
As mãos atam-se
E um puro sorriso brota no olhar de cada um de nós
Água mole em pedra dura
Varre tormentos e traz ternura
Por um desejo em comum
Cada gota do rio lava o mesmo percurso
Seu conteúdo é modificado, lapidado
Sua existência efêmera é cimentada na lembrança
Corajosos, somos corajosos
Água mole em pedra dura...