O CRUCIFICADO

De qual vil ventre mendigaste a luz?

Encerras pobreza, vagas desterrado,

Recusaste a vida, monstro torturado,

Deleita a morte suspenso a cruz.

A tua indigência, aos fracos seduz.

Tanta fraqueza é que te faz amado,

Quantas injustiças e ficaste calado,

Macabra imagem que ao povo conduz.

Ascende da humana sepultura;

Galga pelo céu, almeja cura.

Embalde: os homens são animalescas trevas.

Confio o meu ser aos vermes da terra.

Quem nega a carnal morada, erra.

Entrego-me ao mundo, lanço-me às feras.