A Ebriedade da Vida e de Deus
EU bebo cada trago desta Vida entorpecida,
EU bebo o vinho do teu amor pra esquecer...
Canto e danço o sangue áureo do entardecer,
Canto todas as danças profanas e divinas!
Canto o céu escarlate deste pálido entardecer,
Canto todos os céus onde brada a alma aquilina!
O Vinho volvido que vinha de tua voz rouca
Que era vertido e conVERTIDO
[nas vinícolas de teu ventre suado]
Consagrava a comunhão de nossos carnais pecados,
E a Pomba do Espírito Santo orvalhava a tua boca!
Agora vago sozinho entre tristes vielas e becos escuros,
Clamei clemências aos céus e vomitei naqueles muros,
O vento frio vaga e vasculha cada silêncio das ruas,
Tudo dorme, nada fala... As árvores estão sós e nuas!
O vento frio vagueia na epiderme de cada textura,
Nada dorme, todos falam! As árvores continuam nuas!
Tropeço dentro de mim e nem acho a sombra minha!
Grito meus prantos colhidos das folhas pela frescura...
Quanto mais bebo a vida, mais minha alma é sozinha,
Ó triste estrela tremulante é esta humana vida obscura!
Procurei a mim em todos os bares e jus caminhos,
Mas só vi velhos amigos irreais perto do moinho...
Vê, ó luar, essa tristeza que ri em cada riso e olhar!
Vê, ó céu, a estupidez dos dias em cada pergaminho!
Vê, ó luar, essa tristeza que ri em cada riso e olhar!
Vede a solidão de cada passo em qualquer caminho!
Deus se oculta em si, mas Ele não confessa
Seu divino horror de nunca, de jamais morrer!
Conhecida é Sua agonia em escondido viver...
A tristeza Divina de ser luz e existir tantas trevas,
Ser-se tudo e não se encontrar nas próprias grevas.
Um Deus onividente que a tudo vê e a nada enxerga!
Um Deus onisciente sem ciência de sua inexistência!
A suprema eternidade divina que sempre o apavora,
Sua essência de Amor e um inferno eterno que devora
Seus filhos que gritam e sofrem pelos milênios
[sem pressa, sem anistias, sem nenhuma demora.
Procurei o DEUS VIVO e só encontrei avenidas e desertos!
Deus é o volátil vinho em línguas estranhas e justificadas?
Deus é o Nada que tudo preenche nas almas torturadas?
Ó Deus! Revela-me as vinhas da Tua Graça e Compaixão!
Ó Cristo, compartilhai comigo o cálice de teu amor e pão!
Bebamos e celebremos a nova e eterna aliança_ cheia de
[filhos pródigos e bastardos! Crianças órfãos da Eleição!
O Silêncio dos dias é a divindade calma
Que dorme na imensidão de nossa alma;
Lá fora, distantemente perto de dentro de nós
O Silêncio sincero canta em silente voz!
Acaraú, 15 de julho de 2021
(Gilliard Alves Rodrigues)