O que realmente há?

Perdi o que nunca tive;

Amei o que não era amor;

Sou o que nunca serei;

Estou onde algo jamais andou!

Conquistei tudo o que não planejei;

O Infinito é expirado pelos pulmões de um único pensamento meu;

Transbordei-me no excesso da Escassez,

Nublei-me para ensolarar o azul celeste defecado de minha Escuridão interna;

Ressuscitei-me para acasalar-me com a Morte em seu tabernáculo;

Ceguei os sentidos somáticos para enfim enxergar o âmago de Tudo;

Desmembrei-me nas re-composições esquartejadas,

Todavia sempre falta a ausência da Ausência: algo a ser dito,

Escrito, afagado, observado ou feito.

Na Lucidez de minha lírica embriaguez,

No Lirismo ébrio de minha sensatez,

Eu chorei o entardecer da Vida.

Afundei-me no Abismo mais profundo para vos salvar de vossa superficialidade;

Queimei-me no frio ígneo de minha Tristeza intransferível,

Mas me sorrias como se realmente entendesses minha complexidade.

O Amanhã preterizado pela Memória desumana no Hospício do Tempo;

As Mágoas insepultas exumadas pelas mãos cadavéricas do Amor,

Tudo isso durante o banquete colossal da Dor

No mundo abstrato onde os pés pensam que tocam as membranas do chão,

E as mentiras se trans-ferem de cada célula, órgãos, e retinas.

Minha sombra acaricia com tantos remorsos no corpo

Os prantos que lacrimejavam de minha graciosa e calejada mãe.

As cicatrizes inapagáveis do silêncio flagelante que emanavam

De meu Pai ébrio, ausente, fornica-dor e doente de si próprio;

E todos os dias havia moinhos de vento quixotescos e ensurdecedores,

Os quais calavam o amor familiar em cada cômodo da casa,

Enquanto as transgressões da Existência sangravam pelos olhos de cada estrela cósmica,

E nada conseguia expiar, justificar, e apagar as execráveis ignomínias fétidas

Obradas por Deus ou pelo acaso

ou pela dívida histórica ou pelo pactos sociais.

Nos Progressos evolutivos das Angústias,

Nas Angústias dos Progressos Evolutivos da Involução

As mentiras, os alheamentos, as descobertas e as invenções são re-produzidas.

Suicidamo-nos lentamente inoculando a Vida

Com pedaços e migalhas de Vida! E pra quê?

Em nossas veias decrépitas, sem viver, mascarando-a com qualquer

[coisificação aceitável e utilizável.

Porém colhi de todos os Vales inóspitos do Mundo

A Luz moribunda das disparidades congruentes de minha alma,

E vivifiquei-a no útero das feridas incuráveis de meu Ser semimorto.

As Preces oravam em prol de sua própria Redenção,

A Surdez ouvia os presságios hipnagógicos das casas, apartamentos, ruas, bípedes néscios...

As árvores, temerosas, ajoelhavam-se com os semblantes delirantes;

O sol asfixiou-se pela fumaça de sua autocombustão,

E os Quatro cavaleiros do Apocalipse dizimaram brutalmente

As falanges celestiais e a santíssima trindade de todas as crenças e religiões,

Sob o testemunho implacável da árvore onde Judas foi predestinado a se enforcar

[No sagrado Campo do Oleiro,

Posto que ainda clamam por vingança até hoje

As 30 Moedas de prata contra a Traição assassina do Destinador.

Agora, bebo-me até a última gota de mim mesmo

Até não restar nada do que sou ou de quem fui

[E o Universo se dilacera em meu ser em rios de dor!

O Todo se divorciou de cada Parte,

Cada Parte evadiu-se para dimensões insondáveis do Todo,

E o Cosmos da Vida dilatava seu próprio vácuo cego e insano

[de abiogêneses em tudo.

Senti o que não havia,

O que havia já não mais senti.

Não Penso onde existo,

E nem Existo onde penso.

Vi nitidamente o que não era,

Mas o que era eu não vi.

Desejei a Vontade de sempre mais desejar,

Contudo o desejado eu desejar já não quis.

Os Pensamentos das sensações

E as Sensações do Pensar e de Pensar

Formam os Espelhos das Realidades onde estamos e não vemos,

Ou onde vemos onde não estamos,

E vemos o que não é.

{O que fizemos, o que queremos, o que amamos???

O que Existe não há,

E o que há já não existe.

O Sonho adormece as realidades,

As Realidades sonham que estão acordadas,

Pois Tudo o que é Irreal é Racionalizado,

E Tudo o que é Racionalizado é Irreal.

O Poço de vossa decadência maquiada reflete

A face en-torpe-cida de vossa alma manicomial.

Beijou-me nos lábios a Indiferença disforme de cada molécula, ser e ente,

E abandonei todas as coisas, ideias e seres proeminentes e decadentes

para o longo e inefável Vazio Infinito de Mim.

[É preciso perder-me para enfim encontrar-me a mim mesmo,

Redundantemente, existencialmente, dualmente e cotidianamente!

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 22/11/2021
Reeditado em 23/11/2021
Código do texto: T7391567
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