Alma perdida, pródiga e remida

Os olhos onipresentes com os quais Deus se vê

São os transmutativos olhares nítidos e lúcidos com os quais me vejo a mim próprio:

Interiorizando-me no Exterior do Todo,

Exteriorizando-me no Interior do Nada,

O Sujeito se subjetiva em todos os objetos onde seu próprio ser mergulha,

Mas nem todos os objetos se subjetivam no Sujeito.

O Sujeito se auto-afirma em sua negação sistêmica em alaridos pré-cognitivos,

As Contradições formam a essência da Identidade,

Porém a Essência da Identidade singulariza a biodiversidade das Contradições.

A Vontade expande sua liberdade na Inverdade,

E a Inverdade essencializa as ficções no âmago

Da Forma e do Conteúdo de cada elemento real e irreal,

Jorrando o sangue das substancialidades ontológicas em sinestesias imperceptíveis.

“Bereshit bara Elohim et hashamayim ve'et ha'arets”?

Quando a Doença nos acorda com o cajado de sua cura,

E o Inferno é o tenro, florido e transcendente Paraíso Perdido

De todas as mentes acolhidas no colo materno e afetuoso da Morte,

E a decrépita Vida é estrangulada por suas próprias ilusões paridas,

E os Livros da Ciência se lançaram do cume da Montanha da Incerteza,

E um Cântico regozijante evola-se por entre os desfiladeiros da Angústia,

Ressuscitando a fé no duvidar e questionar a Tudo dos Poetas e Filósofos,

Celebrando a Aniquilação das fontes prismáticas do Éden,

E finalmente o Sagrado beija os pés das entranhas melódicas do Pecado,

E novos Caminhos, novas Portas, novos Oceanos e Ideias florescem e rebentam

Nos desertos congelantes da alma onde ancoram

As raríssimas Mentes deste mundo atrofiado,

E havia uma hermética aurora eufonicamente pulsante

Nos sorrisos das mães que pranteavam a morte de seus filhos

Nas batalhas intermináveis do Cotidiano

Em nossas vias-crúcis proletariamente irregistradas;

Nos Campos imutáveis e inacessíveis de Lírios

Onde a Inocência de nossa Infância corre de braços abertos,

Para que enfim renascêssemos no Fogo vivificante

De nossa autossupressão, semeada na aridez hostil de Humos

De nosso turvo Ser, através de nossas próprias Mãos.

As Cinzas ofuscantes deste mundo im-perfeito

Sussurravam-me um segredo hediondo no sarcófago de minha Sensatez Delirante:

“Comamos, e alegremo-nos.

Pois este meu filho estava morto e reviveu,

Tinha-se perdido, e foi achado.”

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 27/12/2021
Reeditado em 27/12/2021
Código do texto: T7416235
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.