Sem pensamentos...

O que eu queria mesmo era não ser

Fez o meu ideal de felicidade

Não ser

De modo que isso se apagasse

Do meu pensamento

Apagasse também Todo pensamento

Que outrem teve de mim

Não ficasse a mais mínima lembrança

E de repente alguém

Se perguntasse

Em que estava pensando?

Era em mim

Era em mim que me fui

Que fui ser feliz?

Porque estou cansado

A existência exaspera-me

E não quero mais brincar

Imaginar que existe um mel

Que um dia vou encontrar

E seu sabor vai refazer o meu sorriso

E fazer brigar nos olhos

E fazer me sentir leve livre...

Eu não quero mais brincar.

Não quero mais provar

Daquele inefável mel

Eu quero e não ser

Sem desejo

Sem desânimo

Sem pensamentos...

Eu não quero mais

Ouvir meu um sonoro pensamento

Ficar rabiscando a madrugada

Escrever poemas sonolentos

E depois desanimar quem crê

Que acredita que existe o mel

Mágico que cura todos os males...

Eu não quero mais carregar

Esse conhecimento do amor

Esse falso conhecimento

De ouvir falar

De criá-lo a partir de sua necessidade

Não quero experimentar mais

O placebo que fiz

Com substâncias amargas

Para suprir aquilo que quis

Não, chega,

O que queria mesmo era desexistir

Fazer o mundo girar para trás

E voltar a ser criança

E voltar para o ventre de minha mãe

Que também voltava a ser criança

Que voltava também...

Assim se desfaria a minha carne

Assim eu seria não ser

E esse seria o meu mel

Tão invisível quanto o seu...

2005

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 07/06/2022
Código do texto: T7532861
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