Momentos Insanos

Algumas vezes são passageiros.

Como se fossem chuviscos.

Quando os sinto, vôo para os ares

num avesso de alma e,

tão somente, me traduzo.

Sinto que estou num tablado como peça,

às voltas em monólogos confusos.

Gargalho a dor que me acomete

e lacrimejo os desejos tão profundos.

Pego o gancho na cortina que se rasga

e digo do amor, este tema absurdo.

Retalho a alma em tiras complexas.

Gesticulo a vida entre palmas e vaias

e abraço o palco tão ermo, tão escuro.

No primeiro ato questiono a criança

que matei as cegas, sem salvar seu sonho.

No ato seguinte, ressuscito-a aos pedaços

e grito seu nome, acaricio sua fronte

tentando o resgate de sonhos tão puros.

E danço os passos de uma bailarina errante

E mastigo as falas que atirei bem longe

Ajoelho à fé que me elucidou a fome

e de mãos postas imploro que na saída,

holofotes acesos façam sombra

na insanidade que em mim habita.

Dôra Leal