O amor acabou.
O fel das palavras escorria.
Não podemos continuar.
Não há diálogo.
Não há sequer uma faísca.
Tudo está seco.

 

E, o deserto adonou-se de tudo.
Nem areia há.
Há uma ausência.
Uma suspensão intrínseca.
Um mar de vírgulas.
Pausas infinitas.

 

Marasmo e lágrimas.

 

E, reticências perdidas no poente.

O amor acabou.
Cessaram as juras.
Cerraram-se as janelas.
Não há vento.
Não há primavera.

 

Pólen perdido morre 

sem germinar.

 

Só outono de folhas tépidas.
Queimadas.
Vermelhas e amarelas.
E, a promessa de inverno.
O frio cortando palavras.

E serrando querelas.

 

Não me lembro mais de sua voz.
Se aguda ou grave.
Ou semi-aguda e semi-grave.
Se barítono ou tenor.

Se bemol ou sustenido.


Mas, o seu amor era tépido.
Termal e aquecido.
Dormia na memória como
algo longínquo e esquecido.

 

O amor morreu.
O luto floresceu.
E, nas lágrimas
restam os últimos
orvalhos que brindaram
a natureza.

 

E o tempo, por fim,

impiedosamente,

sepulta tudo.
 

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 22/05/2023
Código do texto: T7794878
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