Ode desértica

Nas terras áridas onde pereceram os jardins,

Cantam os sussurros do vento que geme:

É uma melodia desolada que a tudo teme,

É um lamento ancestral que não tem fim.

No horizonte, ecoam trovões e relâmpagos,

Uma vastidão áspera que se estende além

Das veias da terra, o sangue triste dos âmagos

Da bondade e da redenção, perdido também.

O silêncio grita, neste crepúsculo de vinho,

Ecos de palavras enterradas pelo tempo.

As sombras copulam entre cactos e espinhos

Em uma dança macabra do esquecimento.

Os homens de olhares vazios, almas quebradas,

Vagando pelas estradas sem rumo ou destino,

Lutando contra o mundo, sem pão ou espada,

Em busca de respostas num mundo tão assassino.

A poeira dança com as sombras sombrias,

No horizonte vermelho onde o sol se deita!

A solidão grita nos ecos do silêncio dos dias,

Enquanto a noite devora a alma desfeita.

Os rios sangram pedras, a terra é devastada,

A esperança escapa como água entre os dedos,

E a morte cavalga com sua máscara enfaixada

A levar e a trazer consigo nossos medos e segredos.

Os rios secaram e as florestas pereceram

Sob o peso cruel do destino implacável.

Um mundo em ruínas, sem vida ou alegria,

Só massas de zumbis neste mundo incurável.

Na vastidão desértica, a alma caminha

Cada passo marcado pelo desespero,

A busca incansável por algum sentido

Num mundo que se perdeu por inteiro.

Os raios que rasgam do céu essa fealdade,

Gorjeia um lampejo de beleza sombria,

Vede: é a poesia nascendo da infertilidade,

É a chama que brota queimando na noite fria.

Embora o onipresente escuro seja tão nefasto,

O ser pode desenterrar de si a chuva e a canção,

E criar uma ária aflita e solidária no vazio vasto,

Um brado eucarístico que comungue nossa solidão.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 15/06/2023
Reeditado em 15/06/2023
Código do texto: T7814379
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