A Janela

Eu tenho uma janela mágica que sempre está aberta

Se estou triste ou magoado, desesperançoso ou decepcionado, basta olhar por ela

Eu tenho uma janela fantástica e que sempre está aberta, mas não consigo compartilhá-la, porque ela é interna

Eu mesmo a construi, sob sol ou sob chuva, de dia ou de noite, dormindo ou acordado, correndo ou parado, pouco a pouco a moldando com meu próprio sofrimento

Entalhada na mente e esculpida no coração, betumada com lágrimas e lustrada com sorrisos, sempre ao alcance da visão, seja de olhos fechados ou abertos

Eu tenho uma janela incrível e irreversivelmente aberta, que não me pode ser roubada e vai comigo onde eu vou porque ela é interna, mas tem um defeito enorme, que é eu não poder passar por ela

Fico imóvel e impotente, contemplando meio frustrado deste lado do batente, às vezes indigado outras tantas revoltado, mas sempre resiliente, todas as maravilhas que eu vejo passar por ela

Sozinho na multidão, na quietude da minha alma, mirando a imensidão, eu reuno as minhas forças, renovo as esperanças e me apego à confiança, com a fé de uma criança, de que um dia eu possa atravessar

Talvez do lado de lá, olhando de novo para cá eu possa em silêncio encorajar quem com os olhos perdidos no horizonte, focando o infinito, também esteja tentando apenas encontrar um meio de cruzar a janela