Vilipêndio

O tempo leva tudo e coloca tudo no lugar. Leva tudo aquilo não prestava em nós, que não servia para nosso crescimento enquanto espírito. Trata desrespeitosamente, sem um pingo de dignidade, as coisas que nunca foram dignas de serem bem tratadas. Tudo aquilo que sempre foi vil.

O tempo é um lugar estranho, que dá medo e fascina. Não um tempinho apenas, mas uma longa jornada. Um monte de tempo , uma infinidade dele. E, talvez, para apreciar essa questão seja preciso olhar além. Talvez seja preciso buscar alguma coisa nos livros, dar uma boa olhada nos vídeos que registram aquilo que a memória por si tem dificuldade de guardar.

Às vezes penso que ele é até desrespeitoso. Não pede licença, não se explica, nem é muito de conversa. Ele apenas vem e leva tudo e depois nos leva também, depois de nos tirar tudo. De nos mostrar que nada temos.

Não é muito de conversa, mas não se furta a responder, quando interpelado pela nossa indignação, no silêncio ou depois dele, imediatamente ao silêncio de nossa mente, de quem cansou de questionar rebelde, arrogante, por que torna, tempo, tudo vil?

Não se furta a responder que o nobre é nobre. E o belo é belo, o sagrado é sagrado. E o vil, não foi tornado assim, sempre o foi. O que não importa nunca importou, o que importa pouco sempre teve essa medida.

Mas o que era e é essencial, ah, isso sobrevive a tudo. Inclusive ao tempo!

Rodinei Moura