O sonho refinado

Muitas vezes eu deito e não durmo

Mas fico quieto e de olhos fechados

Sentindo a respiração sonolenta

Embalada pelas batidas lentas do meu coração

Às vezes eu durmo, mesmo de olhos abertos,

E sinto a contramão dos acontecimentos

Que se vão revelando aos meus entorpecimentos

Como se a vida toda parasse num triste momento...

De qualquer forma eu consigo mesmo dormir

Apenas lá onde está meu sono,

Quando o meu eu corpóreo desfalece,

E fora do corpo em abandono

Minha alma lá se deita e verdadeiramente

Eu descanso, como se meu corpo tivesse há muito morto,

E é como só lá onde repousa minha alma

Que é em qualquer lugar no mundo espiritual,

Eu pudesse me desligar da vida de verdade

E dormisse com o sono de toda esta cidade

E sonhasse com um terceiro mundo, dentro do outro, após,

Com as mais leves verdades,

Tergiversando com seres leves, espectrais

Da terceira dimensão do mundo dos imortais...

Quando meu corpo repousa no sono

É com muita felicidade que consigo acordar

Mas silencio tudo, as conversas de além

Do mundo das imateriais veleidades

Não podem ser traduzidas a ninguém...

Me sinto só e deveria ser contente

E sou, não andando entre as gentes

Que se tropeçam pelo caminho

Que pisam sem contemplar nem o outro

Nem o verdadeiro mundo

Pois nos olhos todos levam um celular...

Este mundo está cheio de distâncias

Essas pessoas boas das redes sociais

Não dormem, nem se aquietam no sem sono

São amostrais, corpos filtrados e sorrisos esbranquiçados, por verdade amarelados...

Não sou deste mundo, gosto mesmo e de me deitar

Dentro do sono, e lá dormir também mais profundo,

Como só uma alma livre pode alcançar,

E sonhando o corpo,

E dentro deste sonho, a alma dorme e sonha

De novo, indo mais além...

É do que me recordo e sinto

Quando se acorda a minha alma, depois meu corpo também...

As pessoas estão bem luzentes nas imagens irreais,

Distantes da poesia, a essa imorais

Mas eu vivo o meu tranquilamente,

Ouvindo ecos em minha mente,

Textos musicais que continuamente

Me comunicam milhares de vozes inaudíveis,

Que estou certo ser dos seres espectrais...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 17/12/2023
Reeditado em 18/12/2023
Código do texto: T7956232
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