VOCÊ, CURADOR AO VENTRE DE UM NASCITURO?

VOCÊ, CURADOR AO VENTRE DE UM NASCITURO?

Pelas cálidas manhãs de Setembro.

Nos Jardins da cidade de Santos.

Sob o sol que ainda nascente.

O casal, com seu cão; e a lente.

São dois séculos, aparente harmonia.

Que passeiam sob o azul desse céu.

Com o branco pintando os cabelos.

Protegidos por coloridos chapéus.

Minha iris capta esse momento.

Monumentos e chapéus de sol.

Bem à frente a bela escola.

Escolástica, Rosa e prosa.

E na "Fonte do Sapo" na sombra.

O sorvete refresca o calor.

E as aves aqui gorjeiam.

Trinam o canto da paz e do amor.

Bom dia, Santos Dumont!

E o sônico risca o léu.

Fotografei ironia.

E transformei em poesia.

Que bom que essa manhã.

Ficasse cravada na alma.

Que tudo fosse o momento.

Que trás o feliz e acalma.

Mais sem a coleira no dorso.

O meigo cãozinho maroto.

Urina no pé da menina.

Grávida sentada de quina.

Pálida, negra e triste.

Aquela jovem resiste.

O mijo quente e escroto.

Sob o olhar absorto.

O medo invade a senhora.

Que segura na mão do marido.

Que no andar inseguro.

Espanta o cão atrevido.

E já de argola no dorso.

E o espanto, virando remorso.

Carrega o latido no colo.

Pisando a caca no solo.

A minha lente e eu.

E uma nuvem no céu.

Escurecia o sol.

Enfurecia o atol.

Um raio quebra a aba.

Daquele famoso chapéu.

Dona Escolástica Rosa.

Retira o filho e a prosa.

O sapo foi-se da fonte.

A pomba rola voou.

O pé de cuca tão rijo.

Sob o vento vergou.

Ficou a fotografia.

Em branco e preto da vida.

Nesse jardim tão extenso.

No Guiness Book, perdida.

Você seria tutor...

Ao ventre dessa menina?

De um nascituro qualquer.

Que nasce pelas esquinas.

Ou carregar o cãozinho.

Lambendo suas feridas.

Olhar o sol no horizonte.

Dando as costas pra vida.

Você seria um curador ao ventre...

De um nascituro seguinte?

Honorato Falcon
Enviado por Honorato Falcon em 29/01/2008
Reeditado em 18/05/2010
Código do texto: T838105