Revide

Também, eu, esperei pelo sonho

fiz cânticos aos deuses e dancei para a lua

brindei tempestades num risco medonho

os raios bebi, devassa e nua

com as mãos afofei a terra dos desvios

plantei sementes de fetiche e fantasias

colhi belezas aguadas com meu cio

e deitei folhas ungidas de feitiçaria

atravessei as horas, os ocasos e plasmei

ontens e totens, hojes graves e destinos

vivi paixões e a tantos homens eu amei

toquei no dentro dos amores genuínos

a esperá-lo, fiz das horas, densos dias

corri montanhas, planos, versos e planícies

saltei nas eras como náufraga das vias

de um asfalto a toldar a superfície

voei canções como quem parte afobada

desci escadas no vermelho do espelho

e ainda assim, era leve minha jornada

eu te sabia como certo; um evangelho

troquei as roupas, fiz mil caras atrevidas

brindei com sangue e espargi melancolia

me iludi em sensações tão desvalidas

que mal duravam pela luz de um só dia

escrevi poemas com os traços do agreste

me banhei deserto com a rima aturdida

na loa pungente pelo vento noroeste

e fui um norte de uma bússola bandida

minha espada, desembainhada, quis batalha

uma última, aos meus olhos cristalinos

pelas páginas no rasgar da minha mortalha

queimando todos meus poemas mais ladinos

caminharia, a passos lentos, ao teu encontro

para a tua sina e aportaria no teu cais

deitando a alma, o corpo, a vida em pronto

dentro do círculo, para vivê-lo de novo e mais...

Sampa, 19.02.2008

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