Deixar-se...
"Esqueço-me.
Padeço-me.
Esqueço de minha própria essência.
Padeço, procurando inútil clemência.
Onde estão elas, as nobres palavras de amor?
Viraram querelas, premissas de dor...
Pra falar a verdade, às vezes minto;
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto...
E a íntima orquestra, ínfima festa, evapora-se.
E as horas escorrem, e o tempo, devora-se.
E na própria escuridão, procuro somente paz.
E a luz está tão longe, pra perto de si não me traz.
E eu finjo, fujo, busco, trago, renego, estrago, ofusco, me cego...
Me perturbo no meu próprio distúrbio, demente e incoerente...
E o meu lado medíocre esconde o meio de um fim.
E o meu lado ainda são, ainda inteiro, se afasta de mim...
Assim perde-se a essência, transparência de meu ser.
Sou só mais um, sem ouvidos para ouvir ou olhos para ver...
E na indecisão, paixão, ilusão. Já estas não me povoam.
E as verdades? Felicidades? Já não tão bem me soam...
Perdi, e assim tenho de aceitar; Perdi as vontades e sabores,
as nuvens e as cores, meu caminhar...
Perdi até a solidão, que hoje me deixa longe de seu seio.
Perdi-me, na inércia inerente, sem ter a única chance de um último devaneio..."