Deixar-se...

"Esqueço-me.

Padeço-me.

Esqueço de minha própria essência.

Padeço, procurando inútil clemência.

Onde estão elas, as nobres palavras de amor?

Viraram querelas, premissas de dor...

Pra falar a verdade, às vezes minto;

Tentando ser metade do inteiro que eu sinto...

E a íntima orquestra, ínfima festa, evapora-se.

E as horas escorrem, e o tempo, devora-se.

E na própria escuridão, procuro somente paz.

E a luz está tão longe, pra perto de si não me traz.

E eu finjo, fujo, busco, trago, renego, estrago, ofusco, me cego...

Me perturbo no meu próprio distúrbio, demente e incoerente...

E o meu lado medíocre esconde o meio de um fim.

E o meu lado ainda são, ainda inteiro, se afasta de mim...

Assim perde-se a essência, transparência de meu ser.

Sou só mais um, sem ouvidos para ouvir ou olhos para ver...

E na indecisão, paixão, ilusão. Já estas não me povoam.

E as verdades? Felicidades? Já não tão bem me soam...

Perdi, e assim tenho de aceitar; Perdi as vontades e sabores,

as nuvens e as cores, meu caminhar...

Perdi até a solidão, que hoje me deixa longe de seu seio.

Perdi-me, na inércia inerente, sem ter a única chance de um último devaneio..."

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 11/03/2008
Código do texto: T896913