SAPATEADO II

Escuto ao longe o som de castanholas...

Ah, menina!... Vê?

Hoje sou eu que sonho com o teu sapateado

Lembro teu sorriso guardado em tua face bronzeada.

Aquele teu queixume de malfadada

e o teu suspirar emocionado.

É tão estranho isso... Eu não sei como conseguiste

tal proeza. Pois quando tu aqui estavas,

sentia-se tanto a tua falta...

E agora, que já não estás mais, tua presença é tão constante.

Há plantas que não servem pra nada... Simples ervas daninhas,

ou nem isso... Nascem, crescem, atingem a maturidade e se vão.

Sem frutos, sem sementes, sem nada...

Mas tu tal aquela figueira centenária,

deixaste tuas raízes tão profundas...

Mesmo assim, continuas intocável. Tão distante, tão inacessível

quanto sempre fostes...

Ah! Por que paraste de sonhar com teu sapateado?

A seiva dessa figueira envenena minha alma,

meu corpo e o meu sentir...

Porém, assim como as drogas que se usa pra aliviar a dor,

sigo buscando-a e me consumindo

ao som desse ilusório sapateado.