Entre o tecer e o lapidar

"Entre o lapidar e o tecer,

prefiro os dois.

Pois um o diamante faz brilhar

e o outro faz o simples fio renascer.

Assim como é lapidado o pensamento diariamente.

Assim como é tecida a utopia inconsciente.

São ambos provas da criação.

São ambos iguais na função.

Quem lapida o que um dia bruto era,

quem tece o que não pronto estava,

é como a busca pela última quimera,

a última lembrança que ficava.

E no vão do que é normal,

é tecida a forma de viver.

E no vão do todo tão banal

é lapidada a forma do ser.

Tecer versos ao luar

é nada mais que a lua lapidar.

Tecer sombras ao breu,

é nada mais que lapidar o íntimo eu.

E pra quem busca, pra quem vai, pra quem segue.

Que o instrumento seja a lápide e o fio que não se negue.

E pra quem foge, renega ou mente.

Ainda assim pode-se lapidar

o que ainda não se sente.

E pra quem é alegria, perspicácia e devaneio.

E bom que se teçam também as linhas do meio.

E o todo se conserva na parte.

E o tecer se constrói na lápide."

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 26/04/2008
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