Entre o tecer e o lapidar
"Entre o lapidar e o tecer,
prefiro os dois.
Pois um o diamante faz brilhar
e o outro faz o simples fio renascer.
Assim como é lapidado o pensamento diariamente.
Assim como é tecida a utopia inconsciente.
São ambos provas da criação.
São ambos iguais na função.
Quem lapida o que um dia bruto era,
quem tece o que não pronto estava,
é como a busca pela última quimera,
a última lembrança que ficava.
E no vão do que é normal,
é tecida a forma de viver.
E no vão do todo tão banal
é lapidada a forma do ser.
Tecer versos ao luar
é nada mais que a lua lapidar.
Tecer sombras ao breu,
é nada mais que lapidar o íntimo eu.
E pra quem busca, pra quem vai, pra quem segue.
Que o instrumento seja a lápide e o fio que não se negue.
E pra quem foge, renega ou mente.
Ainda assim pode-se lapidar
o que ainda não se sente.
E pra quem é alegria, perspicácia e devaneio.
E bom que se teçam também as linhas do meio.
E o todo se conserva na parte.
E o tecer se constrói na lápide."