Bala de Moranguim

A última bala de morango se destaca no baleiro da recepção, a única que gosto, em meio ao café, menta, eucalipto e até mesmo erva doce, diz pra mim quem em sã consciência pode afirmar gostar de bala de erva doce. Erva doce pra mim é maconha, bala tem de ser marcante, por isso, a clássica morangueira destoa, única na sua roupa vermelha com pintinhas amarelas, coisa bela de ser, cabeleira verde imitando as folhas, me lembra aqueles tiozinhos que vendem as cartelas de morangos nas camionetes que quase sempre nem andam mais, com uma lona amarela cobrindo a trasseira e uma porrada de frutas bem postadas em prateleiras improvissadas, quase sempre feitas das mesmas madeiras finas das caixas de transporte. O caso é que ali quase sempre se paga mais caro que nos sacolões, porém aqui na minha frente não vou pagar nada, pois o patrão deixa estas balas para as visitas, e que fique bem claro, na prática o proletáriado adora contrariar e consome todas as balas as vezes só de provocação. E lá vamos nós, pra dentro desta balinha apetitosa que me cresce os olhos. Desembalo com carinho, cheio de chamegos o seu vestido vermelho, encontro a lingerie de plástico transparente de gramatura espessa, um, do lá si, já e beiça, na trave, bate nos lábios, quica na mesa e estrategicamente se lança em direção da confluência das duas paredes, no ângulo da quina, como quem queira não queria se encher, abarrotar, impestiar de pêlos, pentelhos e todo tipo de cabelo sujo que havia no chão. Tristeza lombrigo focus atiçada e ali colados no ovalado formato do meu doce já citado, as madeichas do azar? zoio gordo? sadismo? o certo é que com uma lavadinha, solamente uma lavadinha, pode-se mudar: o destino.

Marco Cardoso
Enviado por Marco Cardoso em 27/04/2010
Reeditado em 27/04/2010
Código do texto: T2222815