Durma querida

Disse

A voz na quietude

Da Escuridão:

“Durma querida!

Descanse teus olhos

Da impureza

Invisível

E imperceptível

A todos os sentidos

Ora, sem sentido

Para existir."

Então dormiste

E sonhaste com um castelo fantástico

Com jardins encantados

De flores carmesins

Que jorram um puro sangue,

De arvores sagradas

Com frutos outrora proibidos

E agora abençoados

Por deuses esquecidos.

Então você me vê,

Eu caminho e sua direção,

Em seu devaneio

Vestido com um manto

Das cores do sol,

Uma sandália de madeira de ébano,

Esculpido com minhas próprias mãos,

Que neste instante,

Seguram Um cálice repleto

Com o mais suave vinho tinto

Da melhor safra

Jamais colhida

E tão antiga quanta a terra que pisamos.

E eu digo-lhe:

- Beba comigo,

Compartilhe nesta noite

Todo amor que posso lhe dar

Pois logo a escuridão virá.

E neste momento

Tu percebes que as estrelas no céu desaparecem

A cada minuto que se passa

Eu pressinto teu medo

E acalmo-lhe dizendo

“Não te preocupes,

Dê-me tua mão,

Vamos ao meu castelo.”

Caminhamos lentamente

Vislumbrando toda a paisagem

Até que você surpreende-se

Com todas as espécies de aves

Pousando nos galhos das arvores

Admirando nossa passagem

Como se fossemos reis.

De repente, paramos

Diante duma porta imensa,

Olhei para teus olhos

E falei-lhe:

“Por gentileza,

Pronuncie a palavra mágica.”

E apesar de ninguém nunca ter lhe informado

Você sabia

E bradou em voz alta:

“Veritas.”

E a estatua entalhada na porta respondeu:

“Entre, pois a verdade sempre abrirá

As portas de sua alma.”

E a portal abriu-se

Presenteando-lhe

Com a bela visão do interior.

De paredes tão brancas

Quanto o leite recém extraído

De uma ovelha.

E no centro de cada lado

Um imenso quadro pendurado:

No quadro da direita, uma pirâmide egípcia

Porém ao invés do deserto,

Em seu entorno

A mais colorida de todas as florestas já vista,

Em meio as rios

Gigantescas arvores.

No da esquerda,

A imagem do coliseu de Roma

E no seu palco

Ao invés de gladiadores e leões

Havia palhaços e malabaristas,

E a platéia ria até cair.

Ao centro, no alto,

No topo de uma escadaria em forma de Y,

O retrato pintado

Com grande realismo de nós dois,

Ambos diante de uma capela pequena

Porém belíssima.

Você, num belo vestido de noiva

Branco e repleto de pedras preciosas.

E eu, num terno preto,

Com um cetro com a cabeça de Leão na mão esquerda.

Após alguns segundos de contemplação

Seguimos em frente sem parar,

Subindo as escadas,

Viramos a esquerda,

Entrando num corredor repleto de espelhos,

E foi então que percebestes

Quão maravilhosa estavas

Num vestido vermelho

Uma coroa prateada na cabeça,

E um belo colar em forma de lua minguante.

Paramos

Diante de uma dos milhares de porta daquele corredor,

Porem desta vez,

Fui eu quem disse a palavra que a abriu:

“Lux Dei.”

E entreabrindo-se a porta informou:

“Entre e veja que o amor reflete a luz divina.”

Uma imensa cama surgiu diante de nós

E em volta dela estátua de deuses nus

Olhavam-se sem censura para seus belos corpos.

Deixei que desse os primeiros passos,

E a segui logo atrás,

Você parou

Então comecei a desabotoar seu vestido

E quando este tocou o chão

Maravilhei-me com sua costa despida

Você deitou-se na cama

Enquanto eu retirava meu manto

Inclinei-me sobre seu corpo

E no ritmo de uma valsa vienense

Dançamos, jazidos, o amor,

Da maneira que os anjos nos ensinaram

Ao pedido de Deus.

De repente olhamos para os lados

E vimos as estatuas movendo para assistir-nos

Sentimos um leve constrangimento,

Mas nada poderia interromper-nos,

E quando o êxtase

Tomou conta de nossos corpos

Fechamos os olhos para saciar

O sabor com todos os outros sentidos

E explodimos de prazer.

Então quietude,

Reabrimos os olhos

Percebemos que as estatuas sumiram

Não havia também paredes

Nem castelo

Tampouco jardim

Restara apenas a cama

Flutuando no espaço-tempo

E no céu jaziam apenas duas estrelas,

Quando eu disse:

“Está chegando o fim!”

Uma estrela desapareceu,

Você me perguntou:

“Amas-me?”

Porem antes que eu pudesse responde-te,

A última estrela do céu apagou-se

A escuridão reinou,

E você despertou,

Deparou-se com seu corpo nu,

A solidão ao teu lado

E um quarto frio,

Sentiu-se triste e desolada,

Ora antes que a primeira lágrima

Vertesse de seus olhos negros,

Eu surgi,

Com uma bandeja nas mãos,

Levando-lhe teu café-da-manhã,

Seu sorriso tão doce e belo brotou

Eu também sorri

- Bom dia, querida!

- Bom dia, querido, eu sonhei contigo!

- E foi um sonho bom?

- Você era um rei e eu uma rainha, tínhamos um castelo, fazíamos amor quando eu acordei...

- Então não era um sonho tão fantástico assim, já que você é minha rainha mesmo.

- Espera eu te contar os detalhes, era...

- Só que você terá de me contar depois querida...

E realmente, tu me contarias a historia só depois, pois coloquei a bandeja no criado-mudo e transformamos um pouco do seu sonho em realidade.

Carlos Alexandre Marques e Ferreira
Enviado por Carlos Alexandre Marques e Ferreira em 23/05/2008
Reeditado em 15/06/2008
Código do texto: T1002330
Classificação de conteúdo: seguro
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