O FLAMENGO

Um átimo para ouvir peito meu

– nuvens condensadas se avizinham –

Meu vasto vão valente imigrante da alma

Sangra mais à hora da vida do que descansa com a sobra da morte.

Ontem, passou cá, flamengo febril anunciando

Com escolta de beija-flores e piolas de olhos cerrados

Nutriam brutal receio da minha reação... Não ouve!

Era o então proferindo rosas ao porvir, como se lhe escapassem versos – escorriam pelas sépalas.

A hora da sorte é o colher de frutas no campo

É o desmerecer; tais lúgubres aves o sabem

Eu, em minha santa sã sapiência, furto-me a comparecer

Vale mais a vida lamacenta e com luar nos olhos

Que a corja de semi-deuses brincando com o fígado nosso.

Sob a escada de degraus pegajosos, um flamengo espiou

Munido de ata atinada no atol e lavrada pelas mãos pontiagudas dum semi-homem, renitiu alguns segundos

Em semblante, prásino e amarronzado anel se formou

Sempre vale certa delicadeza.

Verificada a total apatia gerada pela imagem, o abutre despediu-se

Poderia estar apenas blefando

Por vezo, recostei a cabeça sobre o oco da alma e caí em sono abissal

Quando acordei, eu estava completamente sozinho

Que penas!

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 26/05/2008
Reeditado em 26/05/2008
Código do texto: T1006119
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