O FLAMENGO
Um átimo para ouvir peito meu
– nuvens condensadas se avizinham –
Meu vasto vão valente imigrante da alma
Sangra mais à hora da vida do que descansa com a sobra da morte.
Ontem, passou cá, flamengo febril anunciando
Com escolta de beija-flores e piolas de olhos cerrados
Nutriam brutal receio da minha reação... Não ouve!
Era o então proferindo rosas ao porvir, como se lhe escapassem versos – escorriam pelas sépalas.
A hora da sorte é o colher de frutas no campo
É o desmerecer; tais lúgubres aves o sabem
Eu, em minha santa sã sapiência, furto-me a comparecer
Vale mais a vida lamacenta e com luar nos olhos
Que a corja de semi-deuses brincando com o fígado nosso.
Sob a escada de degraus pegajosos, um flamengo espiou
Munido de ata atinada no atol e lavrada pelas mãos pontiagudas dum semi-homem, renitiu alguns segundos
Em semblante, prásino e amarronzado anel se formou
Sempre vale certa delicadeza.
Verificada a total apatia gerada pela imagem, o abutre despediu-se
Poderia estar apenas blefando
Por vezo, recostei a cabeça sobre o oco da alma e caí em sono abissal
Quando acordei, eu estava completamente sozinho
Que penas!