De uma pessoa à outra

Alguns sentimentos são marginais.

Montam-nos e nos desmontam sem autorização.

Criam conceitos e os desfazem.

Antítese do amor e ódio.

Mascam nossas verdades,

transportam-nos para um labirinto

e lá nos esquecem.

A felicidade serve como elucidação.

O que é ser feliz?

Seria ter o tátil nos olhos?

Ou, quem sabe, ter audição nos lábios?

Existem tantas almas cegas.

Tantas bocas que nada dizem...

E, no entanto, olhos imploram.

Muitos olhos imploram.

Onde ficam nossos sentimentos puros?

Ficam enclausurados pelos sentimentos marginais.

Tornamo-nos reféns deles.

Somos a mentira insana.

A verdade capenga.

A ilusão falsa.

Marginalizamo-nos a cada golpe certeiro.

Tornamo-nos defeituosos de sentimentos.

Não gostaria de rir até as lágrimas para voltar

a ter fé no próximo?

Eu gostaria. Sei que também gostaria.

Mas, lá, onde o próximo se corrompeu,

também o fez sádico.

Não há risada suficiente que o retorne à pureza.

Não há mais pureza.

Nem minha, nem sua, nem de ninguém.

De minha pessoa para sua pessoa:

- O que fizemos de nossos sentimentos?

ou

- O que fizeram aos nossos sentimentos?