O morto

Era por volta das duas da tarde, o céu estava límpido, sentia-se o calor dos raios solares sobre a pele, poucas pessoas passando na rua e em frente à igreja, na calçada um corpo desfigurado, estendido no chão. Vida quase não se via nele, era um homem de bermuda e blusa suja, descalço, magro e sem rosto. Não dava para ver seu rosto, sua identidade e sua história. Parecia dormir, ou angustiar-se com as dores que sentia em seu coração, se é que tinha coração, ou apenas sentia fome, febre, frio e calor.

Trazia uma sacola preta e a usou como travesseiro, a cama era o concreto já gasto da calçada, dormia em pleno dia, num dia lindo de outono. Podia estar na praia, no cinema, no shopping em tantos outros lugares com sua família, pois era sábado de feriado. Mas parecia não ter família, e que todo dia podia ser sábado de feriado, porque para ele não fazia diferença, afinal trabalho ele também não tinha. Não reclamava de nada, não escutava-se a sua voz, se é que falava, talvez estivesse a espera da morte ou quem sabe já estava morto.

Um cachorro sem dono o acompanhava, era dócil e carinhoso, guardava grande afeto pelo morto, pois nem nome este homem devia ter, ou quem sabe tinha e não se lembrava. O morto também sentia uma verdadeira amizade pelo cão, o tratava bem, o olhava com ternura, como pai que quer cuidar de seu filho.

Pessoas diferentes cruzaram a rua, passaram ao lado do morto, porém nem o viram ali estirado no chão, estavam perocupadas demais para perceberam que um homem dormia na calçada em pleno dia de sábado. Enfim, não repararam que este homem não tinha casa, não tinha família, não tinha nada, mas apesar de estar morto em vida, ainda era um homem, um ser humano como qualquer outro.

Carolina Oliveira da Silva
Enviado por Carolina Oliveira da Silva em 06/06/2008
Reeditado em 25/09/2008
Código do texto: T1022650
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