Poetas chatos

A biografia de um poeta convicto de sua importância e sem nenhum talento, pode ser resumida mais ou menos assim:

O cara nasce, cisma que o mundo pode ser traduzido em algumas estrofes como verdade absoluta. Depois, passa a usar a metalinguagem até a exaustão, para tentar justificar o injustificável: a utilidade duvidosa da poesia.

Já exausto de tanto bordar o mundo com palavras adocicadas, passa a falar da saudade da mãe (complexo de Édipo mal resolvido), do amor correspondido ou não (covardia e frustração) e do mundo que o cerca (inadequação).

Vendo que poesia não muda nada no mundo, ele passa a ssumir a veia cínica, rindo de si e dos outros de maneira dissimulada, jurando que isso é o apogeu da arte. E invariavelmente todo poeta sem graça caminha para isso. Eu, até que fui bem precoce. Percebendo cedo a falta de talento, já pulei logo para a etapa do cinismo, para pelo menos não ter muita coisa para se rir no final.

Logicamente, eu estou aqui descrevendo apenas os poetas sem talento, para que se evitem animosidades futuras. Categoria que integro com muito orgulho (mentira. Orgulho nenhum). Isso porque não tenho fôlego suficiente para um romance que preste. Fazendo uma analogia safada com os esportes, digo que enquanto os outros atravessam o Canal da Mancha à nado, eu fico no meu barquinho sem remo, suspirando e rangendo os dentes.

Logicamente, há sim poetas de altíssimo talento, que na sua genialidade absoluta, poupam o mundo da poesia. Esses aí, só se conhece pessoalmente.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 11/06/2008
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