"Azafamado"

Quão raivosa fico quando te vejo assim, isso, assim, todinho faceiro; deixa-me em labaredas, quase me ateia o fogo da paixão; mas você sabe ser sutil, astuto safado!

Prova-me com o silêncio, que dantes, em tempos longínquos, pouco existiam. Renega-me, mais busca em outra, o que sabe que tens somente aqui, isso, aqui, neste meu desvairo, neste meu constante desaforamento.

Então te deixo. Isso! Deixo-te no vazio, perdido entre diversos sons e entre outras labaredas. Estas flamas inexatas, não te queimam como eu, apenas o aquece, temporal e inutilmente.

Ah, meu antes homem, hoje dela azafamado, enfeitiçado, esculpido; por onde deixou perdida inteligência sua desmedida. Crê, destro astuto, que há colheita nesta sua sensual empreita? Hum? Que seja assim, seu ego enaltecido; já que tens aqui em mim um real mundo vivido, findo, e enfim esquecido!

Acautela-se! Não há imaginação mais audaciosa que àquela existente dentro de si próprio; resfria-te sempre, quando ao meu lado estiver, não me dirija olhar, pois corre o risco de eu te apagar (pegar) em plena realidade.

Flamas: Labaredas

Azafamado: Apressado, atarefado (nunca tem tempo para nada, haja saco!)

Esculpido: entalhado (neste caso: idealizado)