Indefinidas loucuras

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Há dias em que escrever é como respirar. A vontade se estabelece, a mente arranha a sensibilidade e, se a mão não trabalha nessa pressa que inflama, vem-me uma fome incessante de gritar a agonia que me agita. Deixo-me enlouquecer do desejo de começar o meu rabisco, de deixar vibrar em mim o fluxo, a síntese, a antítese, o verso.

E vem aí o paradoxo, a força que corre impávida pelo sangue e que se deita de repente sob meu reflexo. E já me sinto inerte, sem ar e sem destino... e ao mesmo tempo, sinto-me gigante, em prosa, em desatino.

Escrevo então para esta outra parte de mim mais escondida, esta que me responde sempre e me faz companhia, quando a solitude me agride noite a dentro, em verso e prosa. Escrevo porque preciso, porque essa outra parte de mim clama por palavras e morre no silêncio...

E ponho-me a encher a página de indefinidas loucuras, de sátiras e cânticos de minh’alma. Dedos pousam elegantes sobre a mesa, compondo a melodia delicada que versa sobre a pauta dos sentidos. Escrevo. Tento seduzir meus pensamentos e alinhá-los todos, sem censura, nessa busca insana e toda pelo avesso.

Deixo então verter nas linhas o grande íntimo da noite, a voz serena e lenta de toda madrugada.A misteriosa essência das palavras.

Rendo-me ao silêncio e sinto em mim as cores neutras da doçura. Ouço o eco de todo pranto antigo, da luz pungente da saudade e do abandono desordenado a que me impus. São todos esses os pontos silenciosos que exclamo.

Sem mais nenhuma dor, escrevo. Alcei vôo no dorso de um cometa e no espaço me perdi.