Fingidor

Não sei se é o poeta o ultra-sensível da história ou se é apenas um ser humano normal que possui a aptidão da palavra escrita. Não sei se a todos acorrem naturalmente os sentimentalismos melancólicos do fingidor, que por sua aptidão os coloca em papel, ou se é ele o único que sente uma cólera exacerbada, o único que pressente a lua e a faz digna de comparações meramente qualitativas da vida humana. Não sei se é o poeta o único que enxerga os seus próprios desvarios e os transforma em arte. Não sei se é apenas o poeta que vê as folhas secas do outono, mesmo quando as flores brotam e desabrocham perante seus sentidos naturais. Não sei que crime comete o poeta em suas metáforas do meio físico, suas metáforas que tornam o natural tão banalmente colossal dentro do sentimento humano... Não sei como o poeta simplesmente, sem ter alma disto consciente, torna o simples incomparável parte do mais infinito belo... Não sei se ele enaltece o que há de mais trivial e monótono, ou se é ele o único visionário que enxerga tudo com mais valor... Não sei se é humano o poeta, pois é ele capaz de fingir a própria dor...

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 25/06/2008
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