O privilégio de lacrau

Obrigado pela maravilhosa noite,

Onde meu corpo encontrou repouso sob a macia colcha de retalhos, ouvindo o crepitar da madeira se consumindo aos poucos. E minha alma encontrou conforto, num olhar sereno e misterioso, preenchido de sabedoria e mérito, que ao fitar-me dizia, com ausência de sons e gestos, palavras mil, como se me conhece-se profundamente...

Estranho o fato, me pergunto como ou porque, mas não busco a resposta, pois já a conheço, e está guardada em minha lua.

E quando poderia imaginar este jovem trovador, dos maravilhosos presentes, como este, que sua jornada solitária poderia lhe dar?

Ele é jovem, paciente e não possui ambições, pois navega a favor do vento, e confia que este vá guiá-lo para onde ele deve ir. E põem-se a cruzar os mares de seus desafios. Menino água, menino águia, horas se perde outrora se acha, e assim se larga ao mundo, um passo de cada vez, uns saltos para variar, alguns dias se permite até retornar, mas vai sem medo de ser ou estar... um cavaleiro andante, raio negro a cavalgar.

Ele acorda e esfrega os olhos. Na lareira resta a brasa que ainda brilha intensamente emanando calor e conforto para aquela manha de sereno.

Agradece aos deuses de todas as mitologias, de todas as religiões, ele os respeita, mas não se perderia em cerimônias, pois sua batalha, ele sabe, está travada em outro âmbito que não esse.

Com um sorriso contido ele se pergunta, teria sido um sonho?

Mas em seu colo estava a manta. Em sua pele o calor. No ar o gostoso aroma da torta. E em seus olhos a suave presença dela.

... Bonita manta, ele observa, e repara em cada cruzar de pontos, em cada retalho presente, repara nas cores e formas, perde-se por um momento em tantos pensamentos, olhava vividamente como um garoto que mergulha na história de um livro, e não consegue larga-lo.

Que linda história, ele constata. Repleta de encontros e desencontros, de conquistas e perdas, de escolhas... e acasos. Repara em um pequeno furo na manta, mas não pergunta a causa, pois como toda boa história, há de ter seus mistérios.

Ele calmamente retira de sua bolsa um pequenino lenço, azul da cor do céu de antártica, e entrega a esta que gentilmente lhe troce tanta paz.

Agradece mais uma vez a ela, fabulosa escorpiã, e levanta-se.

Aperta forte os nós de suas botas. Respira profundamente, agradece o convite para ceia matinal, mas deve partir.

Na soleira da porta ele a olha nos olhos.

Abaixa levemente a cabeça como quem reverencia um mestre.

E põem-se a cavalgar, naquela maravilhosa manhã de outono.

Sp 26 junho 2008

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Cavaleiro Andante
Enviado por Cavaleiro Andante em 26/06/2008
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