"Ela baila, eu -danço!"

Anunciação: ávida, a água banha corpo febril. Rito que segue diante do espelho, este, coberto pelo vapor que do chuveiro caía. A boca entreaberta aponta a língua em sedução, contorna seus próprios lábios e sente-se momentaneamente saciada.

Óleo pela pele morena goteja, o aroma da canela aromatiza os quatro pequenos cômodos de sua casa: ritual que segue, senso de festa, cheiro da noite; enfim a sedução.

O som – ao fundo – ressoa um ritmo alucinante: é impossível vê-la em câmera lenta, pulso-impulso naquele “tuntz-tuntz” (Dont stop the music). O frio transforma-se em tesão, a música a veste dos pés à cabeça (e continua num ritmo alucinante, dançando-seduzindo-se).

O negro da roupa, colada ao seu corpo, transforma-se na mais pura cor. Prata que a reveste, que a ornamenta, o sapato de salto alto que a mantém soberana, tudo é altivo, tudo é à sua altura: e a música não pára.

O secador que a modela, a base que a embasa, o batom que a cora, o delineador que enrijece ainda mais seu fatídico olhar: e o brilho de sua estrela tatuada na pele, a deixa ainda mais linda, ainda sob o ritmo frenético daquela música.

A bolsa: abriga a identidade, o batom, as chaves de casa, a chave do carro e o seu convite. Sai, é um glamour sentir-se, ainda a música a acompanha pela noite que se adentrará na madrugada.

Frisson ao ouvir, ainda que distante, o estremecer da música. Filas na porta de entrada, seguranças com caras fechadas: tudo lhe oferece prazer.

A atmosfera a domina. Entra, a canção a impulsiona para o centro da pista. Insinua, vê-se tomada pela magia da dança: entra na madrugada dançando, esvoaçando-se dentro daquela canção, lenta e desvairadamente.

Ela baila, como uma princesa. Eu danço, feito Pagu ensandecida no centro da pista!