A ME JANTAR
Como se fosse este o meu último suspiro
Como se entornasse o mais róseo dos envelhecidos
Na noite invernal, no mote mais infernal e abrupto que há
Como se estivesse eu a sorver toda a atrocidade do mundo
Como se fosse eu um ser imundo (destes de coleira)
Exposto aos raios de amplidão duzentos.
Como se, em calos meus, estivessem a bailar esteiras
Rodas de fuligem a intoxicar minh’alma polida, quase intemperizada
Como se pudesse ser eu a azinhaga literária...
Seja bem-vindo!
Como há modo verde em meu sincero rosto
Como nada é como sente a vala a não se preencher.
Solidão desacompanhada, lua cheia na tarde mais insone
Ora, pérolas!
Nem o colibri, em rastro de traçar escada, lembrou-me
Três décadas e meia são linces mancos; não arfam nem imprimem traços
Só com as raspas que fui ter na véspera do dia
Em que me encontro ácido, distinto do fermento, próximo da graxa
Esta que me unta com a chance de me tolerar ao espelho
Como se fosse eu jantar, como quando eu jurei, um dia, chegar.
(Obra completa: www.fortunaliteraria.net)