A ME JANTAR

Como se fosse este o meu último suspiro

Como se entornasse o mais róseo dos envelhecidos

Na noite invernal, no mote mais infernal e abrupto que há

Como se estivesse eu a sorver toda a atrocidade do mundo

Como se fosse eu um ser imundo (destes de coleira)

Exposto aos raios de amplidão duzentos.

Como se, em calos meus, estivessem a bailar esteiras

Rodas de fuligem a intoxicar minh’alma polida, quase intemperizada

Como se pudesse ser eu a azinhaga literária...

Seja bem-vindo!

Como há modo verde em meu sincero rosto

Como nada é como sente a vala a não se preencher.

Solidão desacompanhada, lua cheia na tarde mais insone

Ora, pérolas!

Nem o colibri, em rastro de traçar escada, lembrou-me

Três décadas e meia são linces mancos; não arfam nem imprimem traços

Só com as raspas que fui ter na véspera do dia

Em que me encontro ácido, distinto do fermento, próximo da graxa

Esta que me unta com a chance de me tolerar ao espelho

Como se fosse eu jantar, como quando eu jurei, um dia, chegar.

(Obra completa: www.fortunaliteraria.net)

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 09/07/2008
Código do texto: T1072631
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