Precisa Chover por Aqui

As raridades secas! Nem passa na garganta essa tua fé mal falada.

Respiro muito devagar, consigo contar o segundo do espaço em silêncio. O destino caminhava em busca das gotas mais prósperas, de uma guerra que molhasse até o último sábio, até a mais amarga folha. Nós caminhamos juntos, numa campanha desenfreada, pelas rezas perdidas, as orações que não desabrochavam, a verdade em forma de compassar mais esta caminhada... E a cada novo sol, a cada idosa lua, os passos, eram mais fortes, uma revoada de rostos rígidos estavam em mesma pose, em igualar forma, pela causa nobre, dos dígitos de amor sublime. O calor renega as vozes... Nem uma gota, e tudo é tão chato. Vamos parar de ter criatividade, fazer greve de mente, aplaudir o que ninguém fala, chorar quando alguém gargalha, levar no pescoço, um abraço da navalha, acertar no que todo mundo falha!

As gargantas cortam num ruído sujo: precisam de água, que seja turva, que seja podre, que seja negra, que seja outra, que não seja, mas então que pareça, e a sede cesse em sessão única e santa!

Há quem necessite de caminhar sozinho, só, sem mais ninguém, desacompanhado e de adjetivos ainda assim cheios de gente.

Os cd’s arranhados, músicas repetidas. Filmes de mesmo enredo, histórias repetidas. Os pratos frios e sem sabor. Do meu favorito ninguém gosta... Destas coisas líquidas, ninguém me mostra.

Mais um tempo em seca pra pensar, pra contar como se foi. Levar tudo pro canto, onde a umidade ameaça, e continua a caminhada, estupefata!

A certa hora, na hora certa e momento inexato, relógio maltratado. Anda tudo muito ao contrário e as condições do clima não prometem melhorar, eu peço todos os dias: “cala essa cidade, afasta essas luzes, abre esta janela, e faz seguir-me uma carregada nuvem!”

Mas nada acontece, a maior de todas estrelas me acorda, desperta do sonho de que não existe. Persegue fustigante, despeja raios no meu bolso jeans, e eu não quero... Me faz colocar outros olhos sobre os meus, a suspirar mais forçado de angústia, a ter calor sem estar realmente vivo.

E até quando os barulhos vão deixar pra trás os trovões? Eu preciso de nada, porque o silêncio é a mais firme presença do nada. Me conserta, me conserva e posso ouvir o raio que vem a mim bem devagar, o raio que é a presença, o convite e a ausência do que tanto quero.

Nas 18 dezoito paredes nada mais é concreto, tudo é loucura, continuo a procura, e cada mergulho traça uma forma, a cachoeira que cortina os povos errantes... Não corram ao primeiro trovão, abracem-no como um irmão, e sintam a lava exibida, colorida e fria escorrer no teu corpo.

Tudo o que se precisa é que chova um pouco por aqui, assim acabam todas as soluções, imaginem os problemas! O universo anda demais comigo, os rádios só tocam as outras músicas, nos palanques vozes que só sabem estrelar, nas páginas o sexo ainda vai passar, nas caixas sem embrulho um falso orgulho, tantos problemas, tantos problemas, e a chuva é o dilema... Nada (silêncio), porque eles não sabem! Deixe-os falar a vontade porque tudo que precisam é deixar chover por aqui!

Douglas Tedesco – 11.07.2008

Douglas Tedesco
Enviado por Douglas Tedesco em 11/07/2008
Código do texto: T1075634
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.