... tudo e nada ...

...

O negro de bigode cinza espera algo.

Uma esmola para o pão

ou então

algo para comer quando a missa

acabar.

Espera e recebe uma moeda

dourada.

Da velha chata que à noite vai ouvir

sertanejos na tevê.

E moças torneadas.

Gostosas, aliás

vão dançar nos palcos do sábado

Enquanto outros não querem dormir.

Preferem sofrer a sonhar.

O sertanejo canta, bate palmas.

Fala de dor, nada de amor.

Ah, quantas saudades da época que ao menos

um eletrônico aguardava de meu

pai.

Que não podia ainda me dar.

Culpa de meus irmãos,

pois por eles não pude ser

único.

Os dias mais felizes de minha vida foram dois

nascimentos.

E assim também sou um.

Nascimento.

Fui único para meus pais num dia doze.

E quanto já tinha o dobro de catorze,

chega o primeiro rebento.

Um nascimento

de outro Nascimento.

Por outro dia fui único para alguém.

Ser único, querendo ser o mesmo para todos,

E todos exigem exclusividade.

...