O que resta de mim?
Sentei-me a beira do lago de meus sonhos, vi-me refletida e não me reconheci
As águas pareciam escuras demais para a pureza do meu ideal
Assustei com a bruma que me cegava, temi a lua que não brilhava
Senti profunda solidão, dentro de mim, tudo era escuro e frio
Encolhi e chorei, repetindo mil vezes que isto poderia mudar
Mas o relógio, me fez acordar e ver que o real é ainda pior
Este sol que ilumina e aquece não é suficientemente forte
Pois ainda sufoca-me em profunda escuridão, que é interna
Não a falta de luz, que há muito me limitava, mas a falta de crer
A luz só ilumina se permitirmos olhar ao redor, talvez nisto eu peque
Sinto-me cega, me sinto fraca, não sou quem era, nem sei quem sou
Até as canções mais doces, me entram amargas, ou tolas
Estou entregue a cruéis dilemas, e agora? Se não há braços para me envolverem
Se não há quem me sussurre ao ouvido que vai estar do meu lado
O vazio dos beijos dos sem rosto, o vazio, das superficialidades ditas
Vou vivendo apenas, como quem deixa escorrer a areia da ampulheta
Observando a lentidão que consome da areia que carrega tudo, o tempo...
Quem dera encontrar um poeta que me olhasse nos olhos
E dissesse de tudo o que é... Mas esbarro com poetas promíscuos e bêbados
Daqueles que não sabem que poesia não é apenas destilar doçura escrita
Ou melodias que convencem... Indignamente se vendem a preço ínfimo
A poesia se torna lenda de tempos em que ainda existia amor...
Amor... amor? Onde está o amor? “Não existe amor, apenas provas de amor...”