VIDA E FIM

Nunca deverias ter ressurgido
estava bom assim
sem palavras sem vontades
amor sem ossos
mas eis que te vi
e parecias tão o mesmo de antes
que não pude acertar as horas
deixei que o desejo voltasse à cena
e comesse a tua imagem
como as traças que devoram papéis antigos
Morri numa terça-feira
nem tive tempo de te avisar
Nasci numa sexta
disto deves lembrar
estive viva por pouco tempo
apenas o suficiente para te amar em demasia
te experimentei com a gula de quem prova doce
pela primeira vez
nunca fui de saber parar...
a boca sempre pronta,
as coxas quentes,
os braços em concha.
E, por ser assim tão MUITO
sempre quis o mesmo.
Estava enganada quando pensei que tivesses
perdido teus medos por outros países.
Serás sempre esta sofreguidão
que gosta de cegar
mas terás sempre um riso tão claro
quanto a tua insistência de negar.
Fica.
Continua no corre-corre das tuas cidades
e das mentiras que inventas para poder acreditar.
Agora estão me levando.
O funeral também foi breve.
Não vieste me dar adeus
e te contentaste com ATÉ AMANHÃ.
A brincadeira foi boa, mas teve fim.
Tudo tem fim.
Nada segue
nem mesmo a nossa infância guardada
na memória com gosto de doce.
Pode sorrir
pode até deixar que os olhos ardam
Terei prazer em te ver de longe
De tão longe
que a minha morte parecerá de mentirinha
Como quem esquece de nascer.
Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 16/07/2008
Reeditado em 24/07/2008
Código do texto: T1083326
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