Para todas as coisas o tempo

Para todas as coisas o tempo. O que havia pensado tinha se configurado assim através dele somente. Nada que eu pudesse fazer seria tão efetivo quanto a calma de quem tece um longo fio e não se decepciona ao desfazer o fio em função dos erros. Não luta, mas compreende cada parte da coisa que se enroscou inevitavelmente por conta de um coração aflito.

Cada hora era um calafrio, mas a constância ensina ao teimoso, que ele pode renascer de suas próprias cinzas e desenhar com elas um desenho de efeito mais bonito, mais generoso. Não adianta olhar contra o sol e sentir queimar a retina. Olhar para o azul e cegar-se de uma esperança imensa é o mais viável em momentos assim. Cansaços aqui e ali, espaços ocupados por nada visível. Nada.

Esse zero que a gente experimenta, essa coisa que é abaixo de zero, é como um açoite numa noite calada e fria, mas que por dentro ensina e fala a todo instante: Aprenda, aprenda. Veja com clareza.

Se nossos olhos mentem para nós, nossos corações ficam atordoados de tanta espera, a mente pode ao menos se fazer presente e dar aos dois uma suavidade que não conseguiríamos sozinhos.Descansar na maciez do sândalo e na flexibilidade aquática dos peixes. Lá embaixo existem correntes fortes. Aqui em cima ventos implacáveis.Eles curvam nosso corpo até o máximo e gentilmente cedemos como cedem as coisas que entendem que é hora de ceder.

As coisas que pedimos, pedimos por que precisamos ou queremos. Não nos passa pela cabeça que talvez não sejam elas ou sejam elas mesmo. A gente só quer, quer, quer e quer num infinito querer corrosivo até. Num querer ignorante, eu diria.Até que uma força que nos tem, que sabe mais de nós do que nós mesmos ou ao menos num grau que não podemos saber de nós, nos dá respostas surpreendentes. Respostas ao nosso querer ignorante. Nossa autonomia, tão importante nesse momento, se fragiliza e queda.

Descobrimos então que nada daquilo era realizável aos olhos dessa força que nos tem. Nada daquilo nos beneficiaria da forma como as projetamos em nossa mente de querer ignorante, embora sincero. Mas, a sinceridade não é filha da lucidez nem do saberPosso eu sentir sinceramente tantas coisas inapropriadas ao meu viver, mas não saber que elas são inapropriadas e toma-las como um bálsamo quando na verdade podem ser veneno. E tomar por veneno aquelas que sejam o bálsamo.

Essa é a nossa mente. Há ali um pouco de tudo: sabedoria, delírio, ilusão, clarezas, lucidez, etc. Coisas e coisas, infinitas coisas que no seu devido tempo, morrem, nascem ou ressuscitam. Que no seu devido tempo se esclarecem ou obscurecem... até aonde nos é permitido sabe-las.

Anaís
Enviado por Anaís em 21/07/2008
Código do texto: T1091300
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