indulto

a hora nona que tece o negro manto,

cobre a carne vestida de espanto;

é um quarto de tempo onde habita a razão,

o sentido desligado da emoção

nessa cela que até as paredes oram

e pouco se vê os olhos que choram.

nem a chave mestra incontrolável

alcança os ponteiros ou cabe no ferrolho,

há um vagido reprimido, indelével

que escorre em poesia e prece; um em cada olho.

não se fecha em desuso como rara,

mas dorme no silêncio que em si apara;

sei que arde como brasa encoberta

revirada nas luas por ela desperta.

não importa se o manto é fiado de segredos,

a cada um cabe os seus próprios medos,

mas se a hora nona se evidencia

há de ser pela procela que principia,

não se pode esconder vendavais cortantes

desarmonia febril de delirantes;

quando tudo é erigido em culto

para merecer unicamente um indulto.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 08/02/2006
Código do texto: T109525
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