Insónia

Do outro lado, do outro lado do vidro atravesso estradas, estradas sem paragem, flutuam imagens diluindo as sombras vulneráveis, cogitam os insectos da insónia por dentro da noite cúspide. A impaciência de fixar o sonho abstracto dos dias, adestrar o ritmo da respiração ao fluxo ínvio da existência. Absorvo o teu corpo distante no âmago verdadeiro dos lábios. Escrevo como uma âncora no areal, os náufragos velam no silêncio a cintilação suspensa da água. Do outro lado, essa embolia do vidro onde as folhas se colam às velas da contemplação, medito sobre a vertigem das horas que passam no encalço da luz. Estendo os ombros pela insónia num quarto em que se vertem as imagens futuras em direcção às veias. Do outro lado do vidro, talvez do outro lado das paredes azulíneas, a mágoa marítima de perder o horizonte possível ou os lábios em direcção às veias.

(os lábios em direcção aos lábios)