Aurora / Mito

"J´ai embrassé l´aube d´été."

Rimbaud

“ Esse deslizar inflamado de luz”.

É possível percorrer a claridade de Ariadne, voltar ao areal e respirar a sombra das árvores na aurora. Deslizar um nome no fundo da madrugada onde as aves regressam à agonia da espuma no oceano. Estendes os olhos na alameda do dia e denuncias o mito, reescreves a história nos filamentos de uma memória que nos inventa. Aí, no cume do teu silêncio, o sol cai sobre o rasgo dos ombros e escreves – possivelmente com as asas – o diamante de palavras oníricas que perdeste. Porquê, Ariadne? Porquê, se o corpo se iluminou nesse areal imenso e o cálculo da vida eram todos os instantes? Se as ondas se abriam à influência dos lábios, as veias activavam o perfume do desejo imprevisível? Aí, no cume da tua beleza, passeias pelos caminhos desmedidos do espaço matinal – fixas as imagens na obscuridade débil, os lírios em redor dos cabelos líquidos. Ariadne, deixa o corpo com as aves no flanco do mar – a vertigem do sangue corre nas têmporas da luz.