É um tempo de feridas,
de árvores descascadas,
de troca de penas
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Estou hoje dependurada no fio de alta tensão.
Como uma andorinha , conhece?
                        
               UMA CANÇÃO DESCASCADA   lilian reinhardt


                                 E assim te digo amiga:

Através da névoa densa os olhos não vêem, só buscam e doendo assim de doer fundo, a alma estremece enquanto um sol maior teima em permanecer silêncio no teclado...  Você dá largas braçadas e nós tentamos seguir pela esteira dos teus versos... nós que navegamos tentando sobreviver no mesmos mares revoltos...
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OS ANJOS NÃO SÃO  DESTE  PLANETA  

               
       Tal andorinha abatida em pleno vôo de liberdade. Assim muitas vezes me sinto. 
Como um pesadelo que se repete sem fim.
       
Sensibilidade porosa, fragilizada,  asas inertes, queimadas, descaminhos,  e este jorro que sobe, este vômito existencial  revolvendo as entranhas e saindo como um grito... 
       Quem sou assim exposta neste altar solitário, uma deusa maldita,  semente ruim, um cântaro vazio, cuja água fresca esvaiu-se pelas rachaduras?  Como cheguei até aqui, vim com meus prórprios pés, fui arrastada através de desertos escaldantes, viajei com os ventos dos tempos? 
E o que havia antes e durante e tudo percorrido, era o quê?  Da extensa  malha  tricotada  de  uma  vida   sempre  restam  os nós no avesso, marcas de rompimentos do fio, acidentes na linha em movimento.  Carimbos na pele sensível, ferro em brasa no peito resultando do emaranhado de vivências com o outro, desde que foi  dada a largada nesta maratona funesta.   
       Entretanto,  como seguir ilesos, estando enclausurados num sistema que intenta enfiar uma camisa de força na nossa natureza, atar a coleira bem firme ao pescoço?
      Mas ninguém realiza nada sozinho, tudo existe a dois.   O  eu   e    o  que me cerca, dualidade é a palavra... ação e reação... até o olhar de um mero espectador age sobre os acontecimentos, tem poder, tem energia e mesmo estando em silêncio a boca, o coração fala, os olhos expressam,  e esta linguagem é mais forte que qualquer palavra!
         Somos todos parte do mesmo tecido,  tramado pelas fibras de carne , de indagações,    crueldades ,   medos   e magia ,  agindo uns com os outros sem trégua. Dessa forma, tudo   que nos atinge é também fruto de alguma ação pessoal, mesmo aquela de ficar calados,  dizer talvez... ou lamentar a sorte do outro com um "azar o seu" ou, "não tenho nada com isso".
        Porque as relações entre as pessoas sangram e este sangue se mistura a ponto de não sabermos mais, a certa altura, de quem é a mancha que surge no branco tecido da aparente normalidade. 
        Estamos todos sempre revirando os baús internos à procura de algo que perdemos ou nunca tivemos? O ser nós mesmos para os outros, tem hiatos, sofre remendos, mas lá dentro o inferno não tem retoques!
        Fingimos ser civilizados, e isto é que nos degrada diante da nossa natureza animal. Ela é o que é. Nem anjos,  nem demônios, simplesmente humanos.  Ao  pé da letra, fora das metáforas,  somos mesmo é simples bichos com um detalhe   que nos dá aquela luz de vantagem em relação ao macaco mais próximo.   Ainda com um pé na caverna, jurando  com uma  mão sobre o sagrado livro e matando  com a outra.  Uns Neandertais com mania de grandeza,   aboletados sobre   o pretenso progresso.  E servidos por formas de comunicação cada vez mais sofisticadas, conhecemos uma "realidade" sem tocá-la, somos uma multidão de espectadores passivos.
        Somos escravizados por  regras de conduta, verdades incontestáveis, ideologias manipuladoras  que agora mais rapidamente podem atingir todos os recantos quando os meios de comunicação têm um decisivo papel de levar a Palavra de Ordem ao mundo.  
          Quem não está dentro, está fora. Quem está fora, está condenado. Uma lógica nada recente, mas que agora tem a seu favor os avanços da tecnologia. 
          Pois não quero o  bom senso,   a paciência de Jó, os longos bordados das mulheres de Atenas, a ladainha dos provérbios vazios, do devagar se vai ao longe, de pseudo sabedoria calcada em preconceito, uma vez que quem dita as regras é o mesmo que delas faz serventia. 
         Esta é a lei dos homens, a verdadeira lei que age nos subterrâneos. Os anjos não são deste planeta. Aqui é um salve-se quem puder ! 
         Mas nos mistérios do Tempo  repousa casta e intocada a pedra fria do verdadeiro conhecimento  sobre a qual deitaram-se multidões através dos séculos,  sem nunca terem sequer tocado a  superfície:  segredo inviolável, geratriz, espectro e figura, tudo que é mas ainda não pode ser mais do que vislumbre, profundeza e excrescência, o alfa e o ômega?... simplesmente vida em insondável mistério... 
       




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tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 06/08/2008
Reeditado em 07/08/2008
Código do texto: T1115483
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