Corpo Tangível

Observo, o prazer de observar: mesmo o nada – indefinidamente. Tudo se envolve no nada. O céu dissolve-se (a neblina dissolve-se na relva), pergunto onde vamos depois da contingência nos preencher todas as ideias e sentirmos a morte análoga à dissolução, somos supostos e temos o encantamento líquido de outras vagas que rolam pela relva. Outras aves. Esta tarde – de um Verão possível - coamos a sombra, exaurimos a beleza na brancura reflexa da luz natural, o som das sílabas, das sílabas: compondo palavras emaranhadas em múltiplos objectos. Mesmo nós já não as reconhecíamos, livres as palavras de qualquer fixação: há apenas um limiar de sentido, efémero como o som de uma pedra no mar, ou de uma narração atraída pelos lábios exasperados. O Verão é imenso, este dia cintilante (escrevi-o para um dia autêntico). Observo – mesmo à distância – o corpo tangível.