Dirão os Românticos

Mesmo que nos arredores – a altas horas, deixarás a tua imagem no frio roxo dos bosques adormecidos – os símbolos traduzam a fragilidade de um instante, os seres diáfanos num pão com manteiga e os corpos – sabes -, os corpos em que se passeia o sangue vidrado insistem correr pela contingência : correr sem retorno, digo: fluindo sem origem,

nas margens, pelos eflúvios da casa dançam os pássaros nocturnos como dizia Yeats, quando as palavras fixadas na diáspora das imagens forem mais leves que os dedos, deslizando pelos olhos os olhos do que nunca vimos e no entanto permanece em nós um lugar revisitável, digo: os lábios, pétalas da água,

o frio roxo dos lagos ao fundo dos vasos vividos na noite, a noite dos românticos como Keats, sob o varandim a casa é o prolongamento do mar: quem observa o areal sente latejar mais evanescente o que nos respira, sob ou sobre e enquanto quando a luz luminescente ilumina a luz iluminada, mesmo que nos arredores a circunspecta sombra sombreada, digo: as aves em agonia sobre o real, se me desses a alegria que eu queria imortal,

se todas as palavras que dissemos fossem autenticamente o filtro da emoção num hábito, um filtro coado para viver o incremento da luz pelo espaço, aflorar as palavras que há nessa veste que cai em delírio nos ombros, ouço-as no tecto dos bosques, quando a fonte cortada na madrugada canta o rosto dos românticos antes da manhã; ouço: arredores, bosque, casa, aves, areal, palavras, alegria, românticos, água, luz, sombra, lábios, tu.