O amor no teclado do piano....

João, passou dias nervoso, irritado e com um mau humor insuportável.

A razão desses sentimentos, tinha um nome: Ciúme.

Ciumeira do desconhecido Pedro Augusto, que veio para tirar o seu título de caçula, veio para atormentar seus pensamentos e tudo aquilo que ele acreditava ser seu.

Muitas dúvidas sugiram na cabecinha do João. Cada coisa que chegava para Pedrinho, era a morte para João. Achou tudo feio, colocou defeitos e mais defeitos, reivindicou minha cama, meu colo, minhas horas, e o mais importante minha atencão.

Foram dias de muita conversa, explicando que ele é amado, que meu amor pode ser dividido, que ele é especial. Foram dias convidando-o para ajudar-me na cozinha; fomos ao cinema, a praia e dormimos juntos muitas vezes.

João virou filósofo. questionou cada sentimento. Disse que me preocupo com ele. Descobriu isso quando o levei ao médico e ao dentista. Quando insisti para comer mais salada. Concluiu que protejo-o demais e que dou tudo que ele quer. Pronto, veio outro questionamento: Um presente é sempre uma prova de amor?

Pedro está chegando com o amadurecimento do João. Incrível como as crianças são surpreendentes. Percebi a maturidade do meu filho ontem, quando ele resolveu tocar piano para o irmãzinho. Há meses seu teclado estava guardado na caixa.

Conversa vai, conversa vem, João começou um discurso improvisado, mas cheio de conteúdos. Disse-me que sabia que era amado pelos pais, admitiu suas dúvidas, a sua necessidade de ter essa certeza, admitiu suas cobranças e exigências; descobriu que o amor é um sentimento misterioso e que nem sempre ele consegue entender.

Ligou seu teclado na tomada, pegou seu caderno de anotações, permaneceu horas testando as notas músicais, anotando cada uma delas. Depois tocou o que compôs. Fiquei um tanto emocionada, confusa e de queixo caído, ele compôs uma canção para o Pedrinho. Podia sentir em cada nota o amor pelo irmão. Ele encontrou um jeitinho muito especial de demonstrar seu amor e dizer ao irmãozinho que ele é bem-vindo.

Como mãe, fiquei orgulhosa, ele superou seus limites, mostrou-se

humano, sensível e acima de tudo soube lidar com seus sentimentos.

Passou por momentos difíceis e soube superá-los.

Eu percebi que melhorei a qualidade do tempo que passamos juntos,

fizemos momentos intensos e felizes. Aprendi que o diálogo é o melhor caminho para formamos adultos críticos, cientes do valor do sentimento. Aprendi a respeitar o tempo e capacidade de raciocínio de cada um e vi que os resultados são positivos, pois João aprendeu o valor material das coisas, soube enxergar os porquês de tantas dúvidas e tirou suas próprias conclusões.

Pedrinho já sabe que tem um Super-irmão.

Eu, não tenho mais um menininho e sim um pré-adolescente, determinado, seguro e especial.