{ Me fazes... }

Me fazes muitas perguntas.

Que sei eu de respostas? Eu desaprendo. Engendro dúvidas. Duvido de respostas, principalmente, das minhas. Duvido de mim. Duvido da vida. (que aliteração ridícula essa minha)

Eu também me faço perguntas, busco respostas, mas no fundo bem sei que não existem. Pelo menos vou jogando esse jogo inútil que é a vida em jogo, sem cartas na mesa nem na manga. Só o tempo da madeira da mesa suportando o peso da escrita, o tempo da madeira da cadeira suportando meu peso. A vida é um a_pesar de tudo.

Por que você é assim desse jeito?

E eu sei? Sei não. Sei que ninguém tem culpa de eu ser assim e nem tem importância alguma esse ser-assim-desse-jeito. Eu aconteço.

É um jeito de se fazer e desfazer, modelagem no barro em sua solidão, sua mudez, seu silêncio, sua agudeza, seu peso e principalmente, subtração. Em sua possibiliadade de desnudamento, dessa massa barrenta, úmida, mutante, desforme, dissolvente, dissoluta.

E eu terei que ter uma firme macieza de ir fazendo e refazendo no barro, à palavra, a mim própria, e não há nenhuma forma projetada na tela em branco, nenhum desenho prévio para o tridimensional do movimento das mãos alisando a terra, da carne molemente do barro entranhando no sabugo, dos dedos cavando os olhos...

E, mesmo sabendo que sempre tudo é inacabo, vou fazendo, ao mesmo tempo, em que modelo, o acabamento. E agora, sem acabar, acabo.

Um dia: escultura petrificada no tempo, depois: tudo vira pó.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 24/08/2008
Reeditado em 24/08/2008
Código do texto: T1143791