A última saudade

Um quarto vago, cheiro de abandono por certo o dono, sem desafios, correu mundos sem ir além de algumas quadras. Nada faltou ao homem grotesco, sem parentesco com reflexos e nexos de uma arte qualquer.

Lei que deságua, no rosto expressão brava, o mundo deu de ombros ao canto da sereia a um Ulisses, que se tu visses, despercebido seria tamanha abundância de alma vazia. Feito de sonhos, um homem medonho tem de si um medo tamanho guardado no bolso como um trocado barganha na feira de gente esquecida de dor tão doída sem ter mais o que sentir inventa felicidade no fim da idade pra ser melhor sem tristeza, chega de mentir.

Minha santa bondade, vem outra idade e eu que já fui, agora só penso na demora do fim que sou dentro de mim. Minha esperteza é destreza talhada por sombras feitas de giz.

Trinquei-me mas sou-me inteiro inútil e cansado corro pros lados recolho todos meus fardos como gari. A planta saudade me faz ter vontade de ao menos um tempo fugir de teu tempo, voltar à raiz. O ponteiro minuto não é mais arguto; pobre coitado não anda ao lado do último segundo que não mais está por aqui.

Estrelas memórias que em mim guardadas estão obnubiladas pelo brilho lembrança sol de meio dia.

Na minha morte será que dou sorte de virar pro lado e dormir como um soldado que o inimigo tombou? Piscar meu olho direito depois de ter feito um pedido a quem me aceitou?

Embora indo embora, agradeço sem demora ao menos um adeus reconhecendo uma por uma no fim da idade está minha última saudade.

leandro Soriano
Enviado por leandro Soriano em 24/08/2008
Reeditado em 18/02/2010
Código do texto: T1144456